Tuesday, December 22, 2009

Na contramão



A foto que ilustra o post é manjada. Retrato do artista quando jovem, traz Schumacher em seus tempos de Mercedes, ao lado de Wendlinger e Frentzen, antes de Gachot lançar gás paralisante em um adversário durante uma briga de trânsito e catapultar Michael para a glória. Leio em sites, blogs e no Twitter que o anúncio da contratação do alemão pela equipe neoalemã é questão de horas. Portanto, começo me desculpando se estou falando em hipótese e o fato já está consumado enquanto você lê.

(Em quase quatro anos de blog, nunca fiquei mais de um mês sem escrever. Desculpem pelo abandono. Há alguns meses, lancei-me em um duplo compromisso - escrever mais no blog e retomar meus bons desempenhos nas corridas. E pedi para ser cobrada! Vocês também esqueceram de fazer isso...)

Anyway...

Confesso grande dose de expectativa com a eventual volta de Schumacher. Se eu me inquieto com essa perspectiva, o que dizer de pilotos como Hamilton, Vettel, Kovalainen, Buemi, Kobayashi, Alguersuari, Grosjean? E ainda mais de Bruno Senna, Lucas Di Grassi, Hulkenberg? Há pouco, Di Grassi escreveu no Twitter que, quando Schumacher ganhou seu primeiro título na Fórmula 1, ele (Di Grassi) tinha apenas dez anos e começava no kart. Jovens pilotos, de variados calibres, terão a chance de correr ao lado do maior vencedor da história da Fórmula 1 e isso é coisa para, no mínimo, colocar no currículo. Desafiá-lo e eventualmente vencê-lo certamente são desejos nada secretos dessa moçada mal saída das fraldas quando Schumacher alinhou pela primeira vez, no já distante GP da Bélgica de 1991.

Vem um pouco dessa data parte da minha ansiedade pelo revival do alemão. 1991 foi a primeira temporada que cobri profissionalmente, na retaguarda da Folha de S.Paulo. Já escrevi aqui: quando a Jordan viu-se sem piloto, pela inusitada prisão de Bertrand Gachot, redigi uma nota curta (um módulo 200, como chamávamos na época) sobre o substituto, um tal Michael Schumacher de quem eu, confesso, nunca tinha ouvido falar. As informações estavam em um telex, também bastante curto, evidenciando que Schumacher estava longe de ser um superstar na época. Voltar 19 anos no tempo é algo de um valor quase afetivo, um mergulho no tempo, uma sensação de também estar começando de novo e isso, crianças, por alguma razão, nos revitaliza.

Mas há uma ansiedade esportiva ainda maior a me aquecer neste quesito. Vislumbro um campeonato, como no caso de 2009, com muitas limitações para o desenvolvimento dos carros ao longo da temporada. Testes quase nulos repetem a cantilena do campeonato terminado em novembro: para ser vencedor, o carro precisa nascer bom. Desenvolvê-lo ao longo do ano? Sem testes? Difícil. E a Mercedes parte de um projeto muito bom. Se o modelo de 2010 for uma evolução do carro da Brawn, é certo que teremos Schumacher em um carro candidato ao título. Ou seja, sua volta não terá nada de café com leite. Com o perdão da expressão, ele vai pro pau.

Mas terá uma Ferrari que praticamente recolheu as armas na metade da temporada passada, hibernando para 2010, com uma dupla de pilotos tida, até agora, como a melhor do grid. Difícil imaginar que Maranello fará figuração pelo segundo ano consecutivo. Terá, também, uma McLaren, agora sem Mercedes, mas com outra dupla de pilotos fortes (dois campeões do mundo, afinal). Terá uma Red Bull amadurecida na briga pelo título, com um mini-Schumacher cada vez mais sedento por se firmar no Olimpo da Fórmula 1.

Outro fator que pode pesar a favor da competitividade em 2010. As mudanças aerodinâmicas impostas pelo regulamento em 2009 foram muito mais radicais que as do próximo ano. Na temporada passada, a Brawn acertou a mão, com aquele difusor duplo que tanta vantagem lhe deu no início do ano (e que, dizem por aí, nasceu das informações privilegiadas de Ross Brawn ainda no comando da extinta Honda). As outras literalmente correram atrás. É de se supor que esse desequilíbrio não seja tão grande em 2010. Minha perspectiva - que talvez seja até uma esperança, reconheço - é ver Schumacher em um ambiente muito mais equilibrado do que em seus tempos de Ferrari. Um verdadeiro tira-teima a que um homem de 41 anos vai se impor. Estou louca para ver.

Last, but not least, gostaria de falar da série de decisões dissonantes que envolvem Mercedes e Schumacher neste final de 2009, início de 2010. É a tal contramão que dá nome a este post. A primeira contramão é o próprio reforço da Mercedes em sua permanência na Fórmula 1. Justamente quando as montadoras saíram em debandada da categoria, a empresa alemã reafirmou seus investimentos. A segunda está na própria constituição do time.

Enquanto a maioria das equipes sempre busca mesclar pilotos de estilos e nacionalidades diferentes (até como recurso para atrair diferentes patrocinadores e parceiros), a alemã Mercedes está em vias de investir em dois pilotos alemães. Essa decisão, se confirmada, revela mais que uma opção esportiva. Desnuda uma postura neonacionalista à qual nos desacostumamos em relação à Alemanha do pós-guerra. Equipe alemã, com dois pilotos alemães. Uau! Acho que as feridas finalmente começaram a cicatrizar.

Por fim, a evidente contramão na faixa etária. Em 2010, celebramos mais um recorde de precocidade na Fórmula 1, quando Jaime Alguersuari tornou-se o mais jovem piloto a estrar na categoria. Este rapazinho poderia ser filho do provável (eventual, possível, especulado...)piloto do carro número 4 no ano que vem.

Oh, lord... Falta muito para a temporada de 2010 começar?

6 comments:

Ron Groo said...

Concordo, o alemão não vem pra somar, vem pra vencer.
A Mercedes colocou seu peso, nome e prestigio nesta empreitada. Também não vem para somar.

E que grande lembrança. Uma equipe alemã mostrando que algumas feridas estão cicatrizadas e que a imagem daquele cara que Chaplin parodiou com o personagem Adenoyd Hinkel já não cala tão fundo quando se pensa em Alemanha.

Um ultimo comentário. Você disse que a foto do post evoca ao "artista quando jovem"... Olha, com este cabelinho ai do Scuhumacher a foto é mais para "retrato do artista quando coisa". Zézé de Camargo ruleia ali hein?

Feliz natal a você e a todos os seus.

Fábio Andrade said...

Respondendo, faltam cerca de 79 dias, apenas.

Unknown said...

Que bom que voltou a escrever.
Deu um efeito muito bom a pergunta do final. Estou com a mesma pergunta que os números, inteiros e precisos, simplesmente não podem responder. Muitas coisas ainda vão acontecer até lá. E que bom que vão.
Acho que fui eu o primeiro a te puxar a orelha aqui, chamando seus textos de menos "esforçados" (hehe, desculpe) e muito espaçados. Não farei novamente, porque seu tempo é seu tempo e no final das contas, somos nós que deitamos com nossas obrigações trapezeando na cabeça, e imagino que tenha feito isso nesse tempo.
Mas tem um leitor fiel, mantive resignadamente seu blog na minha lista de favoritos e visitava diariamente. Só deixarei no dia em que você escrever aqui seu último post, então avise nele!! Tinha até pensado: custava deixar um aviso de "In Vacation"? Mas não era o caso. Acho que você não para.

Parabéns e obrigado pelo texto, de novo bonito, e de novo diferente.

Eduardo

Dino said...

Olá Alessandra.

Parabéns pelo belo texto. 2010 vai ser um ano de fortes emoções e para mim, ele já começou com as definições que se sucederam neste final de temporada. Takeover da Virgin sobre a Manor, Sauber com Kobayashi e agora Mercedes x Brown x Schumacher. Não me lembro de me empolgar tanto pela F-1 depois que Senna nos deixou. Este ano foi marcado por tantos acontecimentos negativos que acredito ter sido o fundo do poço para o ¨circo¨.

Além de termos uma equipe como a Brown ganhar todo o knowhow da Honda, chegar ao final como vencedora tendo pouquíssimos patrocinadores e ainda ser comprada pela Mercedes. Ter a Force India na pole e ainda um Japonês conquistando o público com apenas 2 corridas.

Acho que nem sempre dinheiro é tudo na F1, e este ano tivemos algumas provas disso.

Acredito muito na palavra chance aliada a preparação. E espero que todos estejam preparados para nos presentear em 2010 com as melhores emoções NUNCA ANTES vista na F1.

Anonymous said...

ooooooooo Alessandrá volto, Alessandrá volto, Alessandrá voltooooooooo!!!!!

Paulo Cunha said...

Bom ler dois textos novos seus!

Porém, estou na turma dos leitores que não virão aqui cobrar. Pra mim, blog é diversão, não obrigação. Quer por metas a superar, são suas, leve minha torcida e meus parabéns se superá-las. Mas não terá exigências minhas.

Além do mais, blog por obrigação fica com cara de precisão, súper preciso e súper precisando de alma. Escreva o quanto e quando quiser :)