
Nem Papai Noel, nem renas. Neste blog, a imagem do Natal é sempre John+Yoko, por várias referências - a música Merry Christmas à frente.
Nestes últimos dias, acabei refletindo um pouco mais sobre o Natal. Já faz alguns anos que procuro em mim o fascínio que o Natal exercia na minha imaginação. Na infância e mesmo depois, já adolescente, eu entrava em férias no final de novembro e dedicava o mês de dezembro inteiro a curtir de fato o Natal.
Confeccionava meus próprios cartões, escrevia-os e os enviava a minhas amigas de escola, folheava a revista Claudia em busca de ideias novas para enfeites (alguém aí se lembra da árvore de macarrão feita sobre um cone de isopor, depois colorida com spray dourado?). Em alguns anos, tinha também a novena de Natal, da qual eu gostava basicamente por dois motivos - pelas músicas natalinas e porque toda reunião invariavelmete terminava com um lanche!
Tinha o LP com músicas de Natal cantadas por um coro (austríaco, eu acho). E tinha um ritual que eu sempre repetia na tarde da véspera do Natal. Um disquinho da coleção Disney chamado "O Natal do Tio Patinhas", versão da história do velho avarento que é visitado pelos espíritos do Natal passado, presente e futuro.
E depois tinha a família chegando cada um com seu prato, com sacolas cheias de bebidas em vasilhames de vidro. Confusão de mulheres na cozinha, esquentando peru, tender, farofa e um detestável arroz com champanhe que, felizmente, só era feito no Natal e que eu odiava com todas as forças, porque a iguaria chique era sempre um arroz todo empapado, e eu detesto arroz empapado.
E, já na adolescência, demos de fazer sempre uma batida de sonho de valsa que virou hit eterno dos meus Natais (hoje, vai ter. É só bater uma lata de leite condensado, a mesma medida de pinga e cinco bombons sonho de valsa.) Na versão sem álcool, é só substituir a pinga por leite, fica bom também.
À meia noite, brinde. Sempre tinha alguém que pedia guaraná para brindar com o champanhe alheio "porque estava tomando remédio". Brinde e lágrimas. Como se chorava em Natal na minha família! Oração, sobremesa, amigo secreto (nove entre dez dos convivas começava sua dissertação acerca do amigo oculto com o indefectível "é uma pessoa muito especial"). Houve um tempo em que o amigo secreto perdeu ibope, ou em tempos de grana curta, sei lá. O genérico da brincadeira era um sorteio feito na hora, e cada um entregava ao outro uma barra de chocolate como símbolo de amizade. Não era incomum o sujeito tirar um papel e devolvê-lo, alegando ter tirado a si mesmo, ainda que outro alguém já o tivesse tirado também, evidenciando que o fulano estava apenas e tão somente selecionando quem queria e, principalmente, quem não queria tirar.
No fim de tudo, o desânimo diante das sobras daquele banquete pantagruélico. Sempre me impressionei muito mal com aquelas carcaças carcomidas, com aquele resto evidenciando o desperdício. E o cansaço tomando conta de todos, e a irritação para fazer caber na geladeira aquelas sobras. Quando criança, eu nem percebia esses bastidores da grande noite. Queria mais era dormir logo, para chegar logo o dia seguinte e poder brincar com os presentes ganhos na véspera.
Pensando bem, não é tão difícil descobrir porque o Natal perde seu charme na vida adulta. E, agora, com licença, que tenho de arrumar espaço na minha geladeira!
Feliz Natal, John. Feliz Natal, Yoko. Feliz Natal!